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Publicado em Segunda, 22 Julho 2019 13:11
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O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal repudia os recentes ataques à jornalista Miriam Leitão, inicialmente por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e depois pelo próprio presidente. Em encontro com jornalistas estrangeiros, Jair Bolsonaro foi questionado sobre o ato de intolerância de que foi vítima a jornalista Miriam Leitão, no fim de semana.

Miriam e o marido, o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches, participariam de uma feira literária em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Em redes sociais, foi organizado um movimento de ataques e insultos à jornalista por apoiadores de Bolsonaro, o que levou a organização a cancelar a participação dos palestrantes por não ter como garantir a integridade física dos mesmos.

Em resposta aos correspondentes internacionais, o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro disse que sempre foi a favor da liberdade de imprensa e que críticas devem ser aceitas numa democracia. Bolsonaro tem razão. Críticas devem ser aceitas. No entanto, não tem sido essa a sua prática e nem de seus apoiadores. Quando criticados, incitam a violência e a disseminação de falsa notícias sobre aqueles que se posicionam contrários ou sobre aqueles que questionam as ações do atual chefe do executivo.

Em relação à Miriam Leitão, Bolsonaro afirmou aos jornalistas estrangeiros que a profissional foi presa quando estava indo para a Guerrilha do Araguaia para tentar impor uma ditadura no Brasil e repetiu duas vezes que Miriam mentiu sobre ter sido torturada e vítima de abuso em instalações militares durante a ditadura militar que governava o país então.

Não há qualquer registro de que a jornalista tenha se envolvido com a luta armada. Opositora do regime, Miriam foi presa e brutalmente torturada, grávida, aos 19 anos, quando estava detida no 38º Batalhão de Infantaria em Vitória.

O SJPDF repudia as afirmações baseadas em mentiras feitas pelo presidente e manifesta profunda indignação e preocupação com mais esse ataque do presidente e seus seguidores a uma profissional do jornalismo.

Mesmo que o atual mandatário não guarde o menor apreço à própria democracia que o elegeu - já que sempre justifica e elogia o regime ditatorial que assassinou e torturou milhares de brasileiros - é da própria democracia que sua posição não o torne imune à punições por calúnias e difamações, conforme previsão legal. Miriam Leitão foi presa e barbaramente torturada pelo Estado brasileiro e, portanto, mereceria do presidente da República, no mínimo, silêncio sobre o tema. Mentir sobre tal fato, ainda mais para colegas jornalistas estrangeiros, é inaceitável. À jornalista Miriam Leitão, portanto, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal deixa à disposição nosso departamento jurídico para eventual ação por difamação e danos morais.

Ainda, depois desse episódio lamentável, como se não bastasse, Jair Bolsonaro ainda voltou a atacar a imprensa nesse sábado (20/07), em visita ao capital Moto Week, em Brasília. Bolsonaro disse que "não adianta a imprensa me pintar como seu inimigo" e que "a maior parte" dos meios de comunicação tem um "papel político-ideológico".

Nesse contexto, novamente, cabe lembrar ao presidente do país que uma imprensa livre não escolhe uma pessoa ou um determinado ocupante momentâneo de cadeira governamental como um "inimigo". A imprensa - isso sim, como dever profissional e ético - tem que cobrir o poder público de forma implacável, cotidianamente, sempre com minuciosa apuração dos fatos. Se isso vale para uma prefeitura do interior do país, deve valer muito mais para quem governa 200 milhões de pessoas. Do contrário, como se sabe, é propaganda, não jornalismo.

Já que o presidente da República faz questão de não compreender a natureza de nossa profissão, cabe indagar se não faz parte do seu projeto político atuar para que a liberdade de imprensa não seja mais vista como um pilar fundamental da democracia. E sobre isso não aceitaremos retrocesso. Defender a liberdade de expressão, contra qualquer tipo de censura, é dever de todo e qualquer jornalista. Não aceitamos e não aceitaremos nada que coloque em risco a liberdade de imprensa conquistada pela sociedade brasileira. Seguiremos alertas, portanto, em luta pelo nosso direito de livre manifestação e expressão e pelo pleno exercício do jornalismo.