O Congresso Distrital dos Jornalistas, realizado nos dias 5 e 6 de agosto, teve como pauta “O Jornalismo em Transformação”. O tema foi tratado nas duas mesas e na plenária final do evento, que também aprovou teses e elegeu delegados ao Congresso Nacional dos Jornalistas, que ocorrerá entre 25 e 28 de agosto em Goiânia.
A primeira mesa tratou das transformações dos locais de trabalho tradicionais. Alan Marques, repórter fotográfico da Folha de S. Paulo e diretor do SJPDF, afirmou que não vê o fim do jornalismo impresso, mas a possibilidade dos jornais se tornarem produtos para audiências mais específicas e reduzidas.
Marques destacou que não há crise do jornalismo, mas sim dos modelos de negócio das empresas do setor. O desafio, acrescentou, é saber como lidar com o cenário em que tudo converge para o celular e que têm como novidade atores globais como o Google e o Facebook, em fluxos de informação administrados por algoritmos.
O professor da Universidade de Brasília David Renault também demonstrou preocupação com essas mudanças. Na avaliação do acadêmico, as alterações tecnológicas não vieram para facilitar ou diminuir a carga de trabalho, mas foram explorada para que pudessem amplificar as atividades desempenhasdas pelos profissionais. Isso trouxe uma valorização da quantidade muitas vezes em detrimento da qualidade. Tal transformação se reflete na redução das reportagens de fôlegos nos principais veículos.
Leonor Costa, assessora de imprensa do PSOL e coordenadora-geral do SJPDF, abordou os impactos aos trabalhadores das mudanças recentes na profissão. Ela alertou para a sobrecarga de trabalho gerada, como no caso de profissionais que produzem para mais de um veículo ou mais de um produto sem remuneração correspondente.
Nas assessorias de imprensa, as transformações têm feito com que o jornalista deixe de concentrar seu tempo no contato com a mídia em favor da produção de conteúdos de caráter institucional. Isso pressiona o jornalista a acumular cada vez mais funções, inclusive de forma ilegal como filmar, fotografar e editar vídeos. Enquanto isso, complementou, as agências e empresas de comunicação, por meio de seu sindicato nacional (Sinco), vêm promovendo uma ofensiva para não reconhecer o jornalista como assessor de imprensa.
Costa concluiu afirmando que os jornalistas precisam se unir mais e fortalecer as mobilizações para impedir a retirada de direitos e garantir que as mudanças nas empresas não piorem suas condições de trabalho e vida.