O Coletivo de Mulheres Jornalistas do Distrito Federal surgiu em 2015. Desde então, vem contribuindo no debate sobre igualdade de gênero, assédio, atuação e participação das mulheres no jornalismo e no mercado de trabalho, entre tantas outras pautas.
O Coletivo desenvolveu pesquisas e debates sobre assédio e desigualdade de gênero no espaço de trabalho e lançou, no final de 2018, a campanha “Assédio Sexual não faz parte do trabalho. Denuncie!”. A campanha foi consequência de uma série de debates realizados nas reuniões do coletivo e também da atuação do Coletivo e do Sindicato frente às denúncias de assédio nos locais de trabalho.
Um dos casos que ganhou ampla divulgação no DF foi um artigo publicado pelo Correio Braziliense. O texto naturalizava o desrespeito contra a mulher em seu ambiente de trabalho e a ideia de que estagiárias estão nas redações para serem assediadas pelos seus colegas, posicionados em situação superior de hierarquia. O repúdio ao artigo foi acompanhado de uma série de reuniões com a empresa e também com as jornalistas e os jornalistas no intuito debater o assunto, ampliar a consciência sobre as práticas assediosas e alterar o ambiente de trabalho para que seja menos opressor.
Outra frente de atuação do Coletivo foi o estímulo à análise crítica de coberturas acerca de pautas como violência contra a mulher, feminício, visibilidade Trans e Lésbica, com o objetivo de alerta a categoria para o papel do jornalismo no combate às opressões. Os materiais podem ser acessados na página do Coletivo www.mulheresjornalistasdf.org.
As mulheres jornalistas ainda tiveram grande protagonismo na construção de diversas manifestações realizadas nos últimos anos em defesa dos direitos das mulheres, como os atos do 8 de março e o Festival Pela Vida das Mulheres, e também de pautas mais amplas, como as manifestações do #EleNão, contra a ascensão do reacionarismo e da opressão durante o período eleitoral de 2018.
Pesquisas
Nos últimos três anos, o Sindicato em conjunto com o Coletivo de Mulheres realizou duas pesquisas que ajudaram a mapear e denunciar a desigualdade de gênero e o assédio sexual contra as jornalistas.
Em 2016, o primeiro levantamento apontou que 77,9% das jornalistas já sofreram algum tipo de assédio moral por parte de colegas ou de chefes diretos. Um número maior ainda, 78,5%, já enfrentou algum tipo de atitude machista durante entrevistas.
O segundo levantamento, parte da campanha “Assédio Sexual não faz parte do trabalho. Denuncie!”, buscou dados referentes a essa violência em específico. De acordo com as mulheres que participaram do levantamento, 74,3% das profissionais já sofreram assédio sexual em algum momento da atividade profissional.
O levantamento teve como propósito ampliar a conscientização sobre as diferentes formas de assédio sexual no espaço de trabalho e combater essa prática, muitas vezes naturalizada. Embora a pesquisa foque as profissionais que trabalham no Distrito Federal, o formulário foi respondido também por jornalistas de outros estados.
“É um resultado extremamente preocupante. Infelizmente, sabemos que não se restringe à nossa categoria. Precisamos discutir essa realidade para desconstruir e desnaturalizar o assédio sexual nos espaços de trabalho. É importante que as mulheres tenham coragem e apoio para denunciar esses casos. A pesquisa mostra que 79% das jornalistas assediadas não denunciaram o assédio. A grande maioria não o falou algo porque não quis se expor ou porque não sabia onde denunciar”, comentou Renata Maffezoli, coordenadora geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF e do Coletivo de Mulheres Jornalistas do DF.
Alerta à imprensa
A mais recente ação do Coletivo foi no sentido de alertar a categoria e os veículos de comunicação sobre a cobertura acerca dos casos de violência contra a mulher e casos de feminicídio. Nesse sentido, divulgou uma carta à categoria ressaltando o papel do jornalismo na defesa da igualdade social e no combate às violências.
O jornalismo tem como sua principal função social dar voz às minorias e contribuir para a desconstrução das opressões, entre elas o machismo que violenta e mata mulheres diariamente. O cuidado e a preocupação devem sempre prevalecer com relação às vítimas.
“Os veículos de imprensa e seus profissionais devem sempre atentar para, na construção da notícia, não utilizarem termos que reforcem o machismo e responsabilizem as vítimas pela violência sofrida. Além disso, expressar, destacar e nomear os casos como o que são – feminicídio – é um grande passo, o qual, infelizmente, muitos veículos têm se recusado a dar. Nesse sentido, é urgente repensar e reformar o papel da imprensa na nossa sociedade, diante da conjuntura de violência contra as mulheres”, acrescentou Maffezoli.