A editora Casa Amarela, responsável pela publicação da revista Caros Amigos, teria se negado a pagar os direitos rescisórios dos onze jornalistas demitidos após fazerem greve em março deste ano. As informações são do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) e foram divulgadas no site da entidade nesta segunda-feira, 27. Em contato com o Comunique-se, o veículo negou as acusações.
O sindicato classificou como “truculenta e inadmissível” a postura da revista. “A empresa demitiu todos os grevistas, e recusou-se a pagar qualquer direito rescisório, até mesmo os dias trabalhados. Após semanas de tentativas do Sindicato dos Jornalistas e dos trabalhadores de negociação, e sem outra alternativa, os demitidos decidiram entrar com ações judiciais contra a empresa, cobrando seus legítimos direitos”.
Segundo o gerente de circulação da editora Casa Amarela, Pedro Nabuco, as acusações do SJSP são falsas. “Em nenhum momento negamos pagar ou conversar com eles. Como ficou parecendo que eles estavam dispostos a entrar na Justiça, nosso departamento jurídico considerou que o melhor era ter o respaldo jurídico adequado. Por isso, tudo será feito pela Justiça. O que a Justiça considerar que é devido será acertado”. Nabuco conta que os ex-funcionários e o sindicato deram sinais de que entrariam na Justiça “de qualquer maneira, nós acertássemos ou não [os direitos rescisórios]”.
Na época das demissões, o sindicato mandou carta destinada ao diretor geral da Caros Amigos e sinalizou apoio à greve, “em virtude de sua gritante justeza: não bastasse todos os profissionais serem precarizados pela empresa, por meio da sonegação do vínculo empregatício e dos direitos formais devidos a qualquer trabalhador, o diretor geral da empresa, Wagner Nabuco, anunciou, no início de março, que a folha de pagamento teria de ser reduzida pela metade”.
Matéria publicada originalmente em 27/5, às 16h41.
Associado terá até quarta-feira, 29/5,para participar da votação. SJPDF realiza força-tarefa com o objetivo de incentivar a categoria a participar da iniciativa.
Envolvido em reportagens que dão voz às minorias, Caco Barcellos trabalha por volta de treze horas por dia e viaja constantemente. Nesta quarta, 15, o repórter participou do debate “Segurança para quem fala: Liberdade de expressão em toda a mídia”, realizado pelo Consulado-Geral Britânico de São Paulo, na USP. De camisa branca, calça jeans e mala preta de rodinhas, o jornalista chegou cerca de cinco minutos atrasado. Quando entrou, os olhares se voltaram para o profissional “que dispensa apresentações”, como havia anunciado, momentos antes, a gerente de comunicação e diplomacia pública do consulado, Barbara Reis. “Não foi no ritual britânico [pontualidade], mas ainda há tempo”, brincou ela, arrancando risos da plateia, composta por cerca de 90 estudantes.
Caco ficou indignado com a postura da imprensa brasileira na década de 1990 e ressalta que jornalismo “não é profissão para defender o que está ao redor do seu umbigo”. A indignação se deve à cobertura sobre o livro de sua autoria, Rota 66 – A história da polícia que mata. Lançada em 1992, a obra conquistou o Prêmio Jabuti e revela casos de assassinatos cometidos pelo “esquadrão de morte” da Polícia Militar de São Paulo.
Gaúcho de Porto Alegre, o jornalista não gosta de falar sobre as intimidações recebidas, “porque no geral as ameaças voltam”. “Quando lancei, o livro teve repercussão zero na mídia. Quando fui ameaçado, a imprensa inteira começou a denunciar. Fiquei indignado. O que tinha que ser divulgado eram as 4.200 mortes e não o jornalista famoso ameaçado”.
Ele critica a atuação da mídia e considera que os profissionais estão atuando como integrantes da classe dominante. “Nosso dever é tratar os assuntos que têm relevância nacional. Falta consciência de que não estamos cumprindo o nosso papel com o devido rigor. Estamos exageradamente voltados para a realidade de nós mesmos, como profissão que pertence às elites brasileiras, estamos pensando como classe dirigente, como integrantes de um sistema, de um poder”.
O debate sobre a redução da maioridade penal, por exemplo, é “desnecessário, não faz o menor sentido”. Caco defende um “arrocho da penalização contra o maior, o adulto”, que é “o grande responsável pela violência no Brasil”. “Se as cadeias fossem maravilhosas, recuperassem os indivíduos, talvez eu fosse a favor, mas como sei que ali o cenário é quase medieval, de absoluta desumanidade e nenhuma contribuição positiva para o indivíduo crescer em todos os seus valores, não tem por que a sociedade ter essa expectativa como se a cadeia fosse a grande solução”.
Sempre se incluindo quando faz crítica à imprensa, o jornalista usa “nós” ou “a gente” para sugerir que os profissionais repensem seus papeis. “Os repórteres, estou incluso - embora quase sempre esteja circulando, - não estamos cumprindo nosso papel”. Idealizador do ‘Profissão Repórter’, da TV Globo, Caco sugere que a imprensa pense no “preconceito de classe”. “Somos mais eficientes quando retratamos e defendemos os interesses das minorias privilegiadas e menos eficientes e cumpridores dos nossos deveres quando retratamos ou deixamos de retratar a realidade da maioria que sofre a violência”, conclui.
Representantes do SJPDF irão passar nas redações entre os dias 27 e 29/5. O processo de negociação perdurou por mais de dois meses. SJPDF e Sinterj-DF conseguiram chegar em um reajuste de 7,22% no salário.